A independência e a autossuficiência são marcas do nosso tempo. Desde criança aprendemos a ser autônomos, a fazer o maior número de coisas possível sem a ajuda de ninguém, a nos virar e a não depender dos outros. É verdade que precisamos nos desenvolver em todas as dimensões, amadurecer e nos tornar capazes de realizar coisas importantes e grandiosas. Porém, somos, por natureza, seres sociais e interdependentes. Quando entramos em relação com Deus, isso se torna ainda mais latente. Ele é o nosso criador e em tudo dependemos d’Ele, nossa existência depende d’Ele. Como vencer nossa grandeza e nossa independência a fim de nos abandonar nos braços de Deus?
Abandonar-se no Amor de Deus – um grande desafio!
Diante de Deus, somos pó, somos nada. Um nada profundamente amado por Deus. À medida que conhecemos a Ele, também nos reconhecemos criaturas pequenas e dependentes. Essa é a verdade do homem e da mulher, e não há grandeza humana que possa mudar isso. Deus nos fez pequenos para que nos descubramos amados por Ele.
No entanto, embora tudo isso soe muito lindo, quando começamos a caminhar com Deus, de forma decidida e fiel, um dos mais difíceis desafios que encaramos é o nosso próprio eu. E nessa busca pela nossa alma, o lugar onde Deus habita, esbarramos quase que constantemente nas nossas grandezas, na nossa independência, nos nossos próprios conceitos e nas “verdades” criadas por nós. O Senhor nos chama incessantemente a nos abandonar em Seu Amor Imenso e Incondicional, mas como nos parece impossível sair da nossa superficialidade e mergulhar nesse Amor tão profundo.
Estejamos atentos às oportunidades que a vida nos propõe para crescermos na intimidade e no abandono em Deus. Ele usa das situações cotidianas para nos revelar o Seu Amor. Nos momentos de solidão, busque a Deus, abandone-se no Senhor, permaneça com Ele, tenha n’Ele um amigo. Quando estiver triste ou se sentindo injustiçado, abandone-se em Deus, deixe que Ele o console. As dores da alma são lugares propícios para a experiência do abandono e para um encontro íntimo com Aquele cujo Amor nos plenifica e nos ultrapassa.
“Pois quando sou fraco, então é que sou forte” (2Cr 12, 10)
Abandonados em Deus, na nossa fraqueza e nossa pequenez, conheceremos Sua força e Seu poder. Somente quando nos fizermos pequenos e frágeis, desapegados de nossas forças e capacidades, permitindo que Deus ocupe Seu espaço dentro de nós, descobriremos Aquele que é Todo-Poderoso e Senhor de tudo o que somos e temos.
Assim como Santa Elizabete da Trindade, uma jovem carmelita que, conduzida pelo Espírito Santo, descobriu o mistério da Inabitação de Deus – mistério da Trindade que habita nossa alma – também nós, abandonados em Seu Imenso Amor, possamos descobri-lo e nos relacionar com o Deus Trino, que habita o mais profundo do nosso ser!
Santa Elizabete da Trindade, rogai por nós!
Adriane Luz
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator