Nunca foi tão essencial o cuidado com a saúde física, mental e espiritual. A vaidade como valorização sadia da própria aparência também é um ponto que não pode ser deixado de lado. Muitas vezes, esquecemos que fomos criados à imagem e semelhança de Deus e que a nossa vida precisa refletir essa verdade e irradiar a beleza cuja fonte é o Criador. Seja na maneira como nos portamos, vestimos ou falamos. “Glorificai a Deus com vosso corpo.” (I Cor 6, 20).
Tem gente que não sai de casa sem passar um batom, caprichar no penteado, hidratar a pele. Já outros apostam em exercícios físicos. Sabemos que o período de isolamento social potencializou alguns hábitos e desvalorizou outros. Mas, dedicar um tempo para o autocuidado pode parecer, em um primeiro momento, algo supérfluo, porém reflete o amor que temos por nós mesmos e também pelas pessoas que estão à nossa volta.
Distorções da beleza
É fato que encontramos muitas distorções da beleza. Vemos pessoas escravas de um padrão estético e de bem-estar, que se traduz em inúmeras cirurgias plásticas, rotinas excessivas de exercícios, tratamentos de beleza, culto ao corpo perfeito. Por outro lado, encontramos também pessoas que querem se desvincular da feição humana para se parecer com personagens e até animais. Para isso, submetem-se a procedimentos médicos e implantes, a fim de alcançar o objetivo. A promoção do próprio “eu” está acima de todas as coisas.
E na contramão, existem pessoas que não se preocupam tanto com a aparência, vão deixando a vida as levar. São desleixadas com a higiene pessoal, não se importam com a saúde, e a preguiça sempre fala mais alto quando se trata de cuidados pessoais. O lema é sempre: “quando tiver tempo!”. Em todas essas situações citadas existem marcas da história de vida, dos temperamentos e do pecado, que podem supervalorizar ou desprezar a vaidade e o olhar para si mesmo.
Bento XVI vai dizer: “A aparente exaltação do corpo pode bem depressa converter-se em ódio à corporeidade. Ao contrário, a fé cristã sempre considerou o homem como um ser uni-dual, em que espírito e matéria se compenetram mutuamente, experimentando ambos precisamente desta forma uma nova nobreza. Sim, o eros quer-nos elevar em êxtase para o Divino, conduzir-nos para além de nós próprios, mas por isso mesmo requer um caminho de ascese, renúncias, purificações e saneamentos.”(1)
Corpo, Dom de Deus
O corpo é um dom de Deus e precisamos mantê-lo ordenado. “Dizer que a matéria e o corpo são maus é uma afirmação própria da heresia do maniqueísmo, é anticristã. Justamente porque o corpo é criado por Deus, porque é um grande dom de Deus, é necessário mantê-lo equilibrado dentro do seu bem razoável, a fim de que nem os abusos, nem as deturpações, nem as loucuras o aviltem ou estraguem. E essa é a função da temperança.”(2)
Temperança – equilíbrio entre o espírito e o corpo
O Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 1809, define a temperança como “a virtude moral que modera a atração pelos prazeres e procura o equilíbrio no uso dos bens criados. Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos dentro dos limites da honestidade”.
A temperança não nos deixa arrastar pelas paixões e nos ajuda a dominar os desejos egoístas. E isso é alcançado pela oração, pelo amor ao bem e por meio de atos frequentes de autodomínio. Precisamos beber da fonte que é Cristo. Ele nos ensinará o real valor de amar a Deus, a nós mesmos e ao próximo.
Andressa Aparecida da Silva
Consagrada da Comunidade Pantokrator
(1) Encíclica Deus Caritas Est, n.5
(2) A Conquista das Virtudes, Francisco Faus, 185