A caminhada do cristão é uma experiência perene de morte e vida: “Quem perdera sua vida por causa de mim, vai acha-la.” Mt 10,39. Enquanto peregrinarmos nessa vida será assim. Os tempos da quaresma e da páscoa evidenciam essa realidade. A espiritualidade cristã caminha como em uma espiral. É uma caminhada cíclica, mas que vai em uma crescente. Por isso os tempos litúrgicos se repetem anualmente. Nunca poderemos dizer que já morremos o suficiente. Sempre será necessário mais. Nesse espiral, o Senhor nos faz reviver experiências, renúncias, exigências de conversão, mas cada vez de forma mais amadurecida.
É necessário perseverança para alcançar os bens prometidos Cf Hbr 10,36. Quem não está disposto a entrar nessa espiral de conversão não poderá gozar dos bens prometidos. Para isso é preciso estar preparado para as surpresas de Deus. Maria, no Magnificat reza que “Ele cumulou de bens os famintos e despediu os ricos de mãos vazias”. Podemos ser esses famintos ou esses ricos. Os famintos são aqueles que se dispõe a morrer para si, porque é faminto de um Outro, do próprio Deus. Um faminto está sempre pronto a colher o pão que lhe é oferecido. O rico não. O Rico se acha saciado, mas esse rico é aquele que está saciado de si e do mundo. Esses serão despedidos de mãos vazias.
Podemos ver no Magnificat um sinal da quaresma e da páscoa em nossas vidas. A renúncia da quaresma é aquela que nos torna famintos de Deus. Renunciamos a nós, e ao mundo, para nos tornarmos famintos do pão de Deus. Maria reza que os famintos são saciados. Se a Páscoa nos sacia, é sinal que nos fizemos famintos na quaresma. A verdade é que tantas vezes não sabemos se somos os famintos ou os ricos. Para saber isso, basta ver se Deus tem nos empobrecido ou tem nos saciado. Se você é apegado a uma coisa, Ele te fará pobre disso. Se você é pobre, Deus te saciará, porque “ dispersa os orgulhosos e exalta os humildes”
André L. Botelho de Andrade
Fundador e Moderador da Comunidade Católica Pantokrator