Esperar em Deus: Uma decisão

A vida é feita de esperas e talvez seja uma das coisas que mais façamos, ainda que não percebamos ou não gostemos tanto, por sermos impacientes e marcados pela cultura do imediatismo. Esperar é inerente ao ser humano.

Um casal que deseja engravidar, a cada mês espera o resultado positivo de um teste ou exame que indique a gravidez. Caso positivo, aguardará o ultrassom que revelará o sexo da criança. Após isso, deverá esperar o momento do parto para que possa ter em suas mãos o tão desejado bebê.

No dia a dia, esperamos a refeição ficar pronta, o fim do expediente de trabalho, um familiar chegar em casa, o fim de semana, as férias, o lançamento de um filme ou livro, a roupa secar para ser recolhida, a chuva passar… vivemos de espera em espera.

Se em tudo na vida devemos esperar, por que não na vida com Deus? Por que não na vida sobrenatural?

“Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação; humilha teu coração, espera com paciência, dá ouvidos e acolhe as palavras de sabedoria; não te perturbes no tempo da infelicidade, sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça. Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme; na humilhação, tem paciência. Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus, pelo cadinho da humilhação” (Eclesiástico 2,1-5).

No pequeno trecho que lemos acima, por três vezes, Deus nos pede paciência, pois é Sua vontade que aprendamos a esperar pacientemente tudo o que Ele tem reservado para nós, pois “para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus” (Eclesiastes 3,1). Ainda que tenhamos toda a certeza do mundo de que aquilo que esperamos é bom para nós, devemos nos lembrar de que os pensamentos do Senhor a nosso respeito, Seus planos e vontade para as nossas vidas, são infinitamente superiores aos nossos (cf. Isaías 55,8-9). Deus sabe o que é bom para nós, bem como o tempo em que cada coisa deve se realizar.

Se a nossa confiança estiver ancorada Deus, não há o que temer, pois Ele é fiel em Suas promessas (cf. Salmo 144,13); Ele cuida e sempre cuidará de nós.

Existem momentos em que esperar muito nos custa e nossa tendência, por sermos marcados pelo pecado que nos seduz à independência, é querermos nós mesmos solucionar o que está em questão ou providenciar o que almejamos. Lembremo-nos de Abrão que havia recebido uma promessa de Deus, de que sua esposa conceberia, mesmo sendo idosa, e daria a ele um filho. Contudo, influenciado por Sarai, Abrão se deita com Agar, que concebe e dá à luz o menino Ismael (cf. Gênesis 16). O resultado desta situação foi a necessidade de que Abraão posteriormente despedisse a mãe e o filho, pois este não era o filho prometido por Deus. Com isso, aprendemos que ansiedade, frente à vontade de Deus, pode nos colocar em situações bastante complicadas.

Por mais difícil que nos seja esperar, é preciso nos decidirmos, confiantes de que Deus não desilude aqueles que nEle colocam a esperança.

Esperar e não ser desiludido

“Nunca penses que a luta que enfrentas na terra seja totalmente inútil. No final da existência não nos espera um naufrágio: em nós palpita uma semente de absoluto. Deus não desilude: se pôs uma esperança nos nossos corações, não a quer esmagar com frustrações contínuas” (Papa Francisco, Audiência Geral em 20 de setembro de 2017).

Esperar em Deus exige que fixemos nosso olhar, cheio de confiança, nEle, em Sua palavra que é imutável (cf. Salmo 118,89) e não nas circunstâncias que nos rodeiam, porque estas, sim, mudam e podem nos enganar. O tempo de espera, por mais exigente que seja, é um tempo de amadurecimento na esperança, e nunca será perdido se, enquanto esperamos, soubermos nos dedicar a Deus que tanto nos ama.

Neste sentido, nos ensina o Papa Francisco: “Deus é um Deus que vem, que vem continuamente: Ele não desilude nossa espera! O Senhor nunca desilude. Ele nos fará esperar, talvez. Ele nos fará passar algum tempo na escuridão para amadurecer nossa esperança, mas nunca desilude. O Senhor sempre vem. Sempre está ao nosso lado. Às vezes, não se mostra, mas sempre vem” (Oração do Ângelus, no Vaticano, em 29 de novembro de 2020).

Decidamo-nos pela espera em Deus e, com certeza, colheremos saborosos frutos e receberemos a recompensa dos justos.

Edvandro Pinto
Discípulo da Comunidade Católica Pantokrator 

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