Estar no deserto é buscar a Deus

A imagem do deserto é capaz de trazer muitos conflitos interiores em qualquer um que parar para pensar bem. Afinal, ela traz consigo aspectos que podem se fazer angustiantes. Em primeiro lugar, o deserto nos remete à secura. Não há água em sua maior parte. Segundamente, existe o calor extremo no cenário. Um clima sufocante. E por último, o deserto traz a imagem de silêncio e solidão. Nada além de areia, raramente alguma outra cor que não seja alaranjada. Sim, o deserto é um local físico e real, mas também não deixa de ser verdade que muitas vezes o atravessamos interiormente.

Sentimos todas essas características no que chamamos de deserto espiritual e, como bônus, experimentamos ainda medo, incômodo e frustração. Todo mundo está sempre em busca de respostas e o deserto pode se tornar um grande empecilho na vida com o Senhor, pois ele nos deixa em estado de vulnerabilidade. Embora estar vulnerável seja facilmente associado com o negativo, vale ressaltar que o lado ruim do deserto se dá somente se permitirmos. É escolha nossa nos fechar diante do medo. Todavia, se escolhermos olhar além, perceberemos que há muito mais escondido por trás do silêncio de Deus.

Não é fácil olhar ao redor e não ver nada, caminhar e não chegar a lugar nenhum, andar em círculos até se cansar. Não ver a Deus é intrigante e demoramos a encontrar o sentido dessa proposta, ainda que este seja o mais previsível de todos: buscar ao Pai. Em uma jornada de secura, Deus nos convida a buscá-Lo, para que o encontremos de uma maneira nova através da fé. Estar vulnerável então significa, antes de se estar susceptível ao perigo, estar susceptível à experiência com o Senhor.

Veja, o deserto não é nenhum tipo de castigo ou punição. Não é porque você anda fazendo algo de errado – a não ser que tenha se afastado de Deus de propósito. Pelo contrário, o deserto é frutuoso, ele nos fortalece e não devemos fugir dele, pois faz parte de qualquer desenrolar espiritual. É o lugar em que Deus te tira tudo e te faz experimentar situações extremas como ilustradas no começo, porque às vezes é somente na extremidade que o Senhor pode nos dar um crescimento ou uma cura. Às vezes é preciso um choque de realidade, uma experiência do grande do vazio da alma para enxergar o que verdadeiramente existe dentro de nós.

Deus está no deserto, Ele está nas tribulações e nas angústias. Sentindo ou não sentindo, é nisso que precisamos focar. As situações extremas são apenas uma maneira de induzir o crescimento da fé, pois uma fé baseada apenas nos sentidos é uma fé frágil. Já dizia Jesus Ressuscitado a Tomé, que tocou as suas chagas e finalmente acreditou: “Disse-lhe Jesus: Creste, porque me viste. Felizes aqueles que creem sem ter visto!” (Jo 20, 29). Felizes aqueles que não precisam sentir Deus para apostar na Sua presença.

Para nós que somos seres corporais e estamos acostumados a depender dos nossos sentidos, essa é uma experiência muito intensa e dolorosa. Porém, necessária. O primeiro formador, o primeiro diretor espiritual, o primeiro condutor da nossa caminhada é o próprio Deus, e o deserto é uma das suas pedagogias mais eficazes para nos educar. Ele nos quer preparar para grandes planos, e usa da aridez na vida espiritual para que, quando voltarmos ao oásis, nunca mais duvidemos de que um dia ele esteve realmente lá.

Se Deus te convida a viver o deserto hoje, viva e o busque, ainda que no início nada se encaixe, ainda que as dúvidas só aumentem. É quando mais nos sentimos perdidos que mais Deus pode manifestar a sua Vitória em nossas vidas.

Giovana Cardoso
Postulante da Comunidade Católica Pantokrator

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