O alerta de Fukushima

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Dom Sergio da Rocha
Arcebispo de Teresina – PI

A energia nuclear voltou a ser colocada em pauta, desde o acidente na central nuclear de Fukushima, no Japão, cujos desdobramentos ainda estão em curso, com a contaminação radioativa se espalhando no meio ambiente. Desencadeado pelo terremoto, seguido do violento tsunami, o acidente de Fukushima serve de alerta para a comunidade internacional; obriga a rever seriamente os padrões de segurança nas centrais nucleares e a aprofundar o debate sobre a real necessidade e conveniência da energia nuclear ou, ao menos, do seu largo emprego em muitos países.

O trágico acidente de Chernobyl, ocorrido há 25 anos, considerado o pior da história da energia nuclear, parece que estava sendo esquecido; os protocolos de segurança adotados a partir de então pareciam infalíveis. O Japão apresenta padrões tecnológicos altamente desenvolvidos e uma capacidade organizativa considerada eficiente e exemplar, estando habituado com abalos sísmicos. Apesar disso, ficou evidente a possibilidade de falhas nas centrais nucleares e os riscos da radiação atômica para a vida das pessoas e o meio ambiente. A previsão de terremotos e tsunamis não tem sido possível; porém, as conseqüências de um terremoto de grande magnitude num reator nuclear deveriam ser previstas e evitadas. Especialistas têm questionado os procedimentos adotados em Fukushima. Outros defendem as usinas nucleares considerando-as seguras, tendo em vista a resistência da maioria delas no Japão. O Brasil parece distante do acidente nuclear de Fukushima. As conseqüências devastadoras do terremoto e do tsunami, bem como, a resposta serena e firme do povo japonês têm impressionado a nossa sensível alma latina. Entretanto, tem-se a impressão que a tragédia nuclear como tal não causa o devido interesse ou comoção. Na verdade, a energia nuclear não tem sido discutida no Brasil, a não ser em círculos restritos. A participação da energia nuclear na matriz energética do país ainda é pequena e embora tenha crescido o interesse por questões e causas ambientais, a nossa consciência ecológica parece ainda bastante limitada. Pouco se conhece e se divulga acerca do programa nuclear brasileiro desenvolvido em Angra I, II e III. Há quem defenda a sua expansão; outros, a sua paralisação. Certamente, o programa nuclear brasileiro atende a protocolos cada vez mais rigorosos de segurança, porém, é preciso redobrar a atenção e decidir o futuro de modo mais democrático possível. É preciso levar a sério o alerta nuclear de Fukushima e aprender as suas lições, sem alarmismo, mas com responsabilidade. O índice de alerta máximo declarado pelo governo japonês em nível local deveria servir de alerta também em nível global. O momento é propício para se estabelecer um debate honesto sobre a construção de novas usinas nucleares, os padrões de segurança adotados e a gestão de emergência de radiação. Preservar a vida e o planeta, como propõe a Campanha da Fraternidade, exige o cuidado responsável, especialmente, a ação decidida de governos na preservação do meio ambiente. Ao contrário, o gemido da criação continuará a subir aos céus juntamente com o clamor das vítimas das agressões ao meio ambiente.

(Publicado no jornal O Dia, de Teresina, 08-04-2011)

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