Celebrar a Paixão do Senhor é mergulhar na nossa história, nas nossas dores, na nossa solidão, pois é bem isso que profetiza Isaías no texto da primeira Leitura, com riqueza de detalhes quase sete séculos antes: “era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aquele, diante dos quais se cobre o rosto. Em verdade, Ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas Ele foi castigado pelos nossos crimes, e esmagado por nossas iniqüidades; o castigo que nos salva pesou sobre Ele; fomos curados graças às suas chagas” – Is 53,3-5..
É uma celebração que exige de nós muito mais que uma piedade externa, um cumprimento de obrigação. Exige que atualizemos a paixão redentora de Cristo em nossas vidas fazendo com o Senhor o caminho da cruz, onde nossa história é reescrita, onde encontramos o sentido de nossa peregrinação, pois o caminho da cruz escancara toda nossa fragilidade, toda nossa dependência de Deus.
O Evangelho segundo São João (Jo 18,1-19,42), em uma similaridade muito grande com o texto de Isaías, vai nos mostrar todo esse itinerário e com muita propriedade, pois ele o fez com o Senhor e por isso nos deixou a maior descoberta da história da humanidade: “Deus é amor” -1Jo 4,8b. E só faz verdadeira experiência do amor de Deus, se encontra verdadeiramente com esse amor, quem faz o itinerário da Cruz, pois nele se revela o sentido do amor criador de Deus que nunca nos abandona, mas expõe em Cristo a grandeza e a “loucura” desse grande amor. Por isso, a Paixão de Senhor não pode ficar a margem de nossa vida de nossa história, como um fato do passado, mas é parte inerente da nossa existência, do nosso hoje.
“Ó Cruz, indizível amor de Deus! Cruz, glória do céu! Cruz, salvação eterna! Cruz, terror dos malvados! Sustentáculo dos justos, luz dos Cristãos, ó Cruz, por ti na terra, Deus na carne Se fez escravo; por ti no céu, o homem, em Deus, foi feito rei; por ti surgiu a luz verdadeira, foi vencida a maldita noite…
És o vínculo da paz, que une os homens em Cristo mediador. És a escada pela qual sobe o homem até o céu.
Para nós, teus fiéis, és sempre âncora e coluna. Governas nossa morada, conduzes nossa barca. Na Cruz, esteja firme nossa fé, na Cruz prepara-se nossa coroa.” S. Paulino de Nola
Elias Gobbi
Consagrado na Comunidade Católica Pantokrator
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