A cada dia a modernidade está presente em nossas casas e na vida de nossos filhos. Existe tanta coisa boa e maravilhosa que a internet nos traz, mas nossas vidas estão num ritmo tão agitado e corrido… A vida tem passado velozmente e queremos tudo para ontem, os passos precisam ser rápidos porque, afinal, não temos tempo a perder, são tantas coisas a serem feitas em curtos intervalos de tempo.
Estamos ganhando tempo para tantas coisas e temos nos esquecido de “perder” tempo com o que é essencial. Por exemplo, sentar à mesa para uma boa refeição: quanto tempo faz que você não se senta à mesa com a família reunida, sem pressa ou sem olhar a cada minuto para o celular? Ouso ainda perguntar: onde seu celular, tablet ou smartphone ficam quando você senta à mesa para as refeições com os filhos?
Sentar juntos à mesa deveria ser o momento mais feliz do dia, porque, afinal, é momento em que toda a família se encontra depois de uma longa jornada de trabalho ou estudo. Depois de um dia cansativo e exigente, é o momento do encontro em que podemos olhar nos olhos e partilhar a refeição e as experiências que tivemos. Também deveria ser o momento de escuta, em que escuto os meus filhos, seus desejos e sonhos, e que escuto suas lutas e as coisas que estão em seu coração. Talvez seja a única hora em que seu filho tem você só para ele. Deveria ser o momento cheio de risos altos e brincadeiras.
Uma refeição bem feita, mesmo que seja simples, deve ser servida em travessas, para que a mesa fique bonita e facilite o diálogo. Enquanto um pede a salada, o outro serve a farofa para o irmão mais novo. Existe tanta beleza e tanto mistério… Beleza porque nos unimos e nos tornamos um. Deus quis nascer em uma família, Jesus esteve por trinta anos em Sua casa com a Virgem Maria e José. Com certeza, eles fizeram muitas refeições juntos. Mistério porque pessoas tão diferentes se amam e convivem sob o mesmo teto; os laços de amor e sangue nos unem e nos fazem partilhar à mesa as diferenças e nos completar na vida do outro.
“Só Deus sabe criar a harmonia a partir das diferenças. Se falta o amor de Deus, a família também perde a harmonia, prevalecem os individualismos, se apaga a alegria. Pelo contrário, a família que vive a alegria da fé, comunica-a espontaneamente, é sal da terra e luz do mundo, é fermento para toda a sociedade.” Papa Francisco
Esse é o momento também de rezar agradecendo a Deus todo bem que Ele nos dá e Sua generosa providência em nossa casa. Ali, nas refeições feitas em família, ensinamos os nossos filhos a serem agradecidos e generosos uns com os outros; também os ensinamos a se portarem à mesa: “Sem pressa!” “Coma com a boca fechada.” “Mastigue bem os alimentos.” “Você sabia, filho, que comer brócolis é ótimo para o organismo?” “Limpe a boca com o guardanapo.” Poderia citar inúmeras coisinhas que podemos ensinar e aprender na mesa! Numa mesa de família existe tanta vida! O amor reina, mesmo nas contrariedades e diferenças. Você pode sair descansado após uma refeição bem feita e alegre.
Mas o imediatismo nos invadiu, a pressa tomou conta de nós. Algumas vezes na semana, digo ao meu marido: “Traga pão, porque é mais rápido preparar um lanche” ou “vou fazer torta porque hoje está corrido”; ou então “vou servir as crianças na cozinha porque aí, não suja a sala; não vou ter tempo de arrumar depois”. Mas, quando eles comem na cozinha, nós não sentamos com eles. “Coma usando o guardanapo mesmo, porque aí não suja louça.” Sim, isso acontece em casa. Fico pensando quantas oportunidades para estarmos juntos, acolher nossos filhos, escutá-los e educá-los nós perdemos.
Eu sei que é difícil… De fato, temos muitas necessidades e temos pouco tempo, não quero gerar peso em sua consciência. É difícil e exigente. Estamos cansados, esgotados. Bem nos disse C. S. Lewis: “Filhos não são uma distração que nos impede de fazer um trabalho importante. Eles são o trabalho importante!” Sim, eles são o trabalho importante! Priorize estar com eles; mesmo que seja pouco tempo, que seja com qualidade.
Tenho uma proposta: faça uma experiência. A semana tem sete dias. Domingo é inegociável: é tempo de estar com a família, mas tem o churrasco, o aniversário do amigo, da vovó. Faça a experiência, determine: três vezes por semana vão jantar ou almoçar à mesa; não marque nada nestes dias, priorize sentar à mesa com os filhos, faça o omelete mais saboroso do mundo. Esconda seu celular, o dos filhos e do marido também. Rezem, façam uma refeição juntos. Enquanto pede para passar a salada, pergunte como foi o dia, o que fizeram, o que viveram, como foi a escola. Olhe nos olhos. Escute atentamente cada um, deixe o riso correr solto, não olhe no relógio, não tenha pressa. Fale de você, deixe que te conheçam também.
Às vezes, escuto dos meus filhos: “Mãe, faz tempo que não sentamos juntos à mesa….” Percebo que eles gostam; isso é importante sim para eles; e é para nós também, solidifica nossa união. Ali revemos nossas escolhas e a decisão que tomamos de ser família. Também encontraremos as dificuldades, a birra do filho mais novo, a má vontade do mais velho; afinal, está numa fase difícil, há o cansaço dos cônjuges.
Convido você a não desanimar! Deus Se faz presente na mesa sentado com vocês.
“Pelo contrário, a família que vive a alegria da fé, comunica-a espontaneamente, é sal da terra e luz do mundo, é fermento para toda a sociedade.” Papa Francisco
Buscamos a Deus em tantos lugares, buscamos a paz, buscamos relaxar de tantas formas e nos esquecemos de que Deus está no centro da nossa casa, está em nossos filhos e cônjuge. Deus também está nas panelas. Santa Tereza diz: “Deus move-se entre as panelas”.
Você pode me perguntar: e a louça depois? Você tem duas opções: chame todo mundo para te ajudar ou lave com todo o amor do mundo, louvando a Deus por esta oportunidade maravilhosa que Ele te deu de estar junto com seus amados; louve pelas diferenças, pelas dificuldades. Deixe seu coração se encher de júbilo. Com certeza, você vai dormir cansada, mas em paz.
Jaqueline Moreira
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator