Abrace a Sua Singularidade

complementariedade

Outro dia, numa conversa com uma amiga sobre trabalho, mais especificamente sobre gestão de pessoas, estava partilhando os resultados da minha equipe nesse primeiro semestre do ano e falei como o clima organizacional estava muito bom; ela me perguntou o segredo de como engajar as pessoas e ter bons resultados. Eu disse que não sabia nenhuma fórmula secreta, apenas usei os benefícios da complementaridade, que nada mais é do que unir o que há de melhor em cada um em prol de um bem maior, em sua singularidade. Como trabalho numa obra social, esse engajamento é ainda mais importante.

E o que é essa complementaridade, afinal? Bom, é simplesmente entender que nenhuma pessoa tem um dom pior que o outro; é reconhecer que na minha singularidade posso realizar algo de bom e especial para alguém na minha família, no meu trabalho, na minha comunidade, na minha escola ou faculdade, enfim, existe uma missão confiada a mim que, ainda que seja diferente da missão do outro, é importante, e juntos podemos realizar muitas coisas.

Os dons que recebemos

Na Epístola aos Efésios está escrito, “E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos…” (Ef 4.11-12). Vemos que desde o tempo dos apóstolos se fala da complementaridade dos dons, dessa forma linda de edificar o mundo, cada um assumindo a singularidade dos dons que recebe do Senhor. É muito importante resgatarmos isso, pois o mundo hora nos insere numa neurose competitiva, hora nos coloca numa luta por uma utopia igualitária e vai nos roubando a essência da nossa identidade. Rouba-nos da nossa identidade de filhos de Deus, únicos e irrepetíveis.

Aqui partilho com vocês o quanto sofri até entender que eu poderia amar e ser amada na minha singularidade. Sofri até entender que “tudo bem” eu não saber cantar, não saber muito sobre a história da Igreja, não ter aptidão para o artesanato e tantas outras habilidades que não tenho. Sofri até reconhecer que cada um de nós é chamado a realizar algo único no mundo, e na complementaridade dos dons que temos, realizarmos grandes coisas.

Pelos relatos que temos na Bíblia, percebemos que os apóstolos escolhidos por Jesus tinham personalidades e dons que se complementavam, e juntos formaram a Igreja de Cristo. Na luta do inimigo contra essa Igreja, ele nos cega, usa de nossas fraquezas para que nos afastemos desse chamado à comunhão. Começamos a travar lutas para mostrar quem é melhor que o outro, que o rico é melhor que o pobre, ou o pobre, por sofrer mais, é melhor que o rico; inúmeros são os enganos que nos impedem de viver a alegria e gerar comunhão a partir da complementaridade de dons.

Precisamos nos aproximar do Pai

A pequena flor do Carmelo, Santa Teresinha do Menino Jesus, compreendeu perfeitamente o valor da complementaridade na vida da Igreja e na sua vida. Ela nos explica isso muito bem num trecho de sua autobiografia que diz, “Compreendi que se todas as florzinhas quisessem ser rosas a natureza perderia seu adorno primaveril, os campos não seriam mais salpicados de florzinhas… Assim é no mundo das almas, o jardim de Jesus. (…) Assim como o sol ilumina ao mesmo tempo os cedros e cada florzinha, como se ela fosse única sobre a terra, assim Nosso Senhor se ocupa particularmente de cada alma como se não houvesse outra igual”.

Assim como Teresinha o fez, precisamos nos aproximar cada vez mais do Pai. É preciso que voltemos para casa e permitamos que Deus, nosso Pai, nos devolva a visão para podermos enxergar o valor da nossa singularidade. Desse modo, poderemos acolher a singularidade do nosso irmão e oferecer o melhor de nós para ele, e assim, juntos, realizar a missão de testemunhar o amor de Deus para o mundo.

É preciso cessar essa busca frenética e incansável de nos encaixar em estereótipos de perfeição; precisamos pedir a graça do Espírito Santo para assumirmos os dons que nos foram confiados e descansarmos na verdade de que fazemos parte de um corpo com diferentes membros, mas complementares.

Nesse mundo que vive nas trevas do egoísmo, da divisão, de estereótipos e rótulos, somos chamados a irradiar a luz da Fé na comunhão gerada pela complementaridade dos dons que a cada um de nós foi confiado pelo Pai.

Que o Bom Deus nos abençoe e a Virgem Santíssima nos ajude e nos ensine a abraçar nossa singularidade, “…com vistas ao aperfeiçoamento dos santos”.

Fernanda Guardia
Consagrada da Comunidade Católica Pantokrator

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