Não há vitória sem dor

Posso passar horas (se me deixarem) assistindo às meninas competindo na ginástica artística. Como são graciosas! Cada um dos movimentos é realizado com uma leveza surpreendente. Enquanto eu própria talvez não conseguisse fazer uma cambalhota, aquelas atletas parecem voar; não aparentam sentir dor, desconforto ou qualquer dificuldade. De fato, elas fazem parecer que um “mortal triplo carpado” fosse a coisa mais “fácil” do mundo.
Sabemos, porém, querido leitor, que isso não é nenhum pouco verdadeiro. Dificilmente conseguiremos imaginar o quanto aquelas meninas sofreram em seus treinamentos… Quase ninguém se dá conta de quantas foram as vezes que elas tiveram suas mãos machucadas, seus pés sob bolsas de gelo ou seus membros torcidos pelo esforço doloroso. Perceba que o pódio e as medalhas não vêm de graça. Ao contrário, custaram cada gota de suor e cada lágrima.
Hoje, ao assistir àquelas competições e presenciar a emoção das atletas, que conseguiram, pelo sofrimento, chegar ao seu grande objetivo, sou levada a olhar para a minha própria vida com uma outra perspectiva. E quero convidá-lo a fazer o mesmo com este curto texto.

Sofrer para quê?

O sofrimento, geralmente, vem acompanhado de um terrível sentimento de impotência – e, convenhamos, ninguém gosta de se sentir impotente. Ninguém gosta da sensação de estar vulnerável, desestabilizado, sem poder fazer nada a respeito. E é justamente por isso que temos tanto medo e repulsa da ideia de sofrimento. Ficamos travados, paralisados, não sabemos como caminhar, não vemos como dar sentido àquilo que nos aflige.
Muitos de nós acabam, por vezes, se sentindo injustiçados diante de uma ocasião de dor e sofrimento. É inevitável aquele pensamento vitimista de “Eu faço tudo certo, por que preciso passar por isso?”; ou ainda aquele “Tanta gente fazendo coisa errada no mundo, e justamente eu preciso sofrer desse jeito!”. Não é difícil compreender o porquê muitas pessoas acabam culpando o próprio Deus por essas situações delicadas.
Mas aqui está o grande segredo: o medo ou a revolta ocorrem quando nós não conseguimos dar um sentido ao sofrimento. Estamos tão acostumados com tudo do nosso jeito, com os prazeres e gozos da vida, tão enraizados nesse mundo passageiro, que passamos o tempo todo fugindo da dor e correndo para o prazer. No entanto, quando temos essa mentalidade, muitas vezes não percebemos que a dor pode ser uma oportunidade ou um meio de se alcançar algo mais valioso.
Imagine uma mulher grávida, que sempre sonhou em ter um filho. Dizem que a dor do parto é uma das mais intensas que existe (e, de fato, é). Porém, eu garanto que essa mulher não viverá a dor como algo fatalista, ou como uma desgraça. Muito pelo contrário, a dor será a ocasião de receber o seu grande e sonhado tesouro: o filho esperado! Ou seja, a dor não é um fim em si mesma, mas um meio para algo melhor.
O Senhor dos senhores, o Deus que é Todo-Poderoso, se abaixou até nossa miserável condição, a fim de, justamente, nos ajudar a dar um significado novo a todas as coisas, inclusive ao sofrimento. Ele veio nos ensinar a combater o bom combate, a fim de conquistar a coroa da glória!
Ao lermos o texto do “Servo Sofredor”, escrito no capítulo 53 do livro de Isaías (e que trata, justamente, sobre o Cristo), é impossível não ficarmos impactados:

“Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele. Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e humilhado. Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniquidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas.” (Is 53, 3-5).

Ao olhar para a cruz e ver tamanha dor e sofrimento que nosso amado Jesus sofreu por cada um de nós, eu, particularmente, me sinto envergonhada ao perceber que eu reclamo de tão pouco… Ao me deparar com alguma situação em que sou chamada a sofrer, me pego murmurando, muitas vezes blasfemando, perdendo a oportunidade de dar um significado santo àquilo, conforme o meu Senhor ensinou tão bem.
Nosso Senhor não apenas conseguiu ressignificar o sofrimento; Ele também nos deu a oportunidade de batalhar, para que também nós consigamos subir ao “pódio” da glória eterna no dia da salvação.

Eu quero conquistar a minha medalha!

Usando aquela imagem do início do texto, quem nunca pensou em sentir a emoção em conquistar uma medalha, assim como aquelas atletas tão graciosas? Quem nunca cultivou no coração o desejo de subir ao pódio e ver que valeu a pena os esforços vividos, as noites mal dormidas, as dores e tristezas passadas? Lembremo-nos sempre: o sofrimento não é um fim, mas um meio!
A grande medalha que eu quero ganhar (e desejo que você, meu amigo leitor, também ganhe), é uma medalha que não apenas “vale a pena”, mas que vale a vida!
Somos chamados a combater um bom combate nesse mundo para, um dia, após completada a nossa “corrida”, podermos subir ao maior de todos os pódios: o Céu. Mas, para isso, precisamos treinar, calejar nossas mãos, torcer nossos pés e vencer cada queda que nos cause sofrimentos. Precisamos olhar para as nossas situações de dor e tomá-las como escadas para irmos mais além. Temos que ser ousados e confiantes de que à nossa frente está o Senhor, e Ele nos ajuda em nossa difícil caminhada. Ele é poderoso e pode dar um significado novo a tudo, afinal é Ele quem faz novas todas as coisas (Ap 21, 5).
Que possamos, assim como São Paulo, dizer no fim da nossa caminhada:
“Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Resta-me agora receber a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia, e não somente a mim, mas a todos aqueles que aguardam com amor a sua aparição” (2 Tm 4, 7-8).
Deus te abençoe!

Angélica Baruchi Libório
Discípula da Comunidade Católica Pantokrator

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